viernes, 28 de febrero de 2014

Si yo fuese yo


Lee en portugués o en español este texto de la escritora Clarice Lispector, donde descubrirás que pasaría "si tú fueses tú y yo fuese yo".

Se eu fosse eu
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Clarice Lispector

Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor, sentir. 

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. 
Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. 
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro. 

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. 

No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.


Si yo fuera yo
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Clarice Lispector

Cuando no sé dónde guardé un papel importante y la búsqueda se revela inútil, me pregunto: ¿si yo fuera yo y tuviera un papel importante para guardar, qué lugar elegiría? Algunas veces resulta. Pero muchas veces me quedo tan presionada por la frase “si yo fuera yo”, que la búsqueda del papel se vuelve secundaria, y empiezo a pensar. Mejor dicho, a sentir. 

Y no me siento bien. Pruebe: si usted fuera usted, ¿qué haría? De inmediato uno se siente intimidado: la mentira en que nos acomodamos resultó ligeramente corrida del lugar donde se había acomodado. Sin embargo, ya leí biografías de personas que de repente pasaban a ser ellas mismas, y cambiaban por completo de vida. 

Creo que si yo fuera realmente yo, los amigos no me saludarían en la calle porque incluso mi fisonomía estaría cambiada. ¿Cómo? No sé. 
La mitad de las cosas que yo haría si fuera yo, no las puedo contar. Creo, por ejemplo, que por algún motivo acabaría presa en la cárcel. Y si yo fuera yo daría todo lo que es mío, y confiaría el futuro al futuro.

“Si yo fuera yo” parece representar nuestro mayor peligro al vivir, parece una entrada nueva a lo desconocido. 

Pero tengo la intuición de que, pasadas las primeras llamadas locuras de la fiesta que sería, tendríamos al final la experiencia del mundo. Lo sé bien, experimentaríamos finalmente de lleno el dolor del mundo. Y nuestro dolor, aquel que aprendimos a no sentir. Pero también seríamos a veces invadidos por un éxtasis de alegría pura y legítima que no logro adivinar. No, creo que ya estoy de algún modo adivinándola porque me sentí sonriendo y también sentí una especie de pudor, el que se tiene ante lo que es muy grande.

lunes, 24 de febrero de 2014

Lee +



Transfórmate en otra persona.
Quien lee tiene la oportunidad de vivir todo tipo de aventuras a través de los personajes. Por ejemplo, 
Don Quijote de la Mancha.

Lee +

Campaña de la Librería italiana Mint Vinetu

sábado, 15 de febrero de 2014

Neruda & Clarice



Revista Fatos e Fotos. Domingo 19 de Abril de 1969

Neruda, poético e político
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por Clarice Lispector

Cheguei à porta do edifício de apartamentos onde mora Rubem Braga e onde Pablo Neruda e sua esposa Matilde se hospedavam — cheguei à porta exatamente quando o carro parava e retiravam a grande bagagem dos visitantes. O que fez Rubem dizer: “É grande a bagagem literária do poeta”. Ao que o poeta retrucou: “Minha bagagem literária deve pesar uns dois ou três quilos”.

Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné (“tenho poucos cabelos, mas muitos bonés”, disse). Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas. Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.

Antes de reproduzir o diálogo, um breve esboço sobre sua carga literária. Publicou “Crepusculário” quando tinha 19 anos. Um ano depois publicava “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, que até hoje é gravado, reeditado, lido e amado. Em seguida escreveu “Residência na Terra”, que reúne poemas de 1925 a 1931, da fase surrealista. “A Terceira Residência”, com poemas até 1945, é um intermediário com uma parte da Espanha no coração, onde é chorada a morte de Lorca, e a guerra civil que o tocou profundamente e despertou-o para os problemas políticos e sociais. Em 1950, “Canto Geral”, tentativa de reunir todos os problemas políticos, éticos e sociais da América Latina. Em 1954: “Odes Elementares”, em que o estilo fica mais sóbrio, buscando simplicidade maior, e onde se encontra, por exemplo, “Ode à cebola”. Em 1956, “Novas Odes Elementares” que ele descobre nos temas elementares que não tinham sido tocados. Em 1957, “Terceiro Livro das Odes”, continuando na mesma linha. A partir de 1958, publica “Estravagario, Navegações e Regressos”, “Cem Sonetos de Amor”, “Contos Cerimoniais” e “Memorial de Isla Negra”.

No dia seguinte de manhã, fui vê-lo. Já havia respondido às minhas perguntas, infelizmente: pois, a partir de uma resposta, é sempre ou quase sempre provocada outra pergunta, às vezes aquela a que se queria chegar. As respostas eram sucintas. Tão frustrador receber resposta curta a uma pergunta longa. Contei-lhe sobre a minha timidez em pedir entrevistas, ao que ele respondeu: “Que tolice”. Perguntei-lhe de qual de seus livros ele mais gostava e por quê. Respondeu-me: “Tu sabes bem que tudo o que fazemos nos agrada porque somos nós — tu e eu — que o fizemos”.


Você se considera mais um poeta chileno ou da América Latina?
Poeta local do Chile, provinciano da América Latina.
Escrever melhora a angústia de viver?
Sim, naturalmente. Tra­ba­lhar em teu ofício, se amas teu o­fí­cio, é celestial. Senão é infernal.
Quem é Deus?
Todos algumas vezes. Nada, sempre.
Como é que você descreve um ser humano o mais completo possível?
Político, poético. Físico.
Como é uma mulher bonita para você?
Feita de muitas mulheres.
Escreva aqui o seu poema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?
Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos?
Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?
Acredite-me tolo ou patriótico, mas eu há algum tempo es­crevi em um poema: Se tivesse que nascer mil vezes. Ali quero nascer. Se tivesse que morrer mil vezes. Ali quero morrer…
Qual foi a maior alegria que teve pelo fato de escrever?
Ler minha poesia e ser ouvido em lugares desolados: no deserto aos mineiros do norte do Chile, no Estreito de Ma­ga­lhães aos tosquiadores de ovelha, num galpão com cheiro de lã suja, suor e solidão.

Em você o que precede a criação, é a angústia ou um estado de graça?
Não conheço bem esses sentimentos. Mas não me creia in­sensível.
Diga alguma coisa que me surpreenda.
748. (E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números)
Você está a par da poesia brasileira? Quem é que você prefere na nossa poesia?
Admiro Drummond, Vinícius, Jorge de Lima. Não conheço os ma­is jovens e só chego a Paulo Men­des Campos e Geir Campos. O poema que mais me agrada é o “Defunto”, de Pedra Nava. Sem­pre o leio em voz alta aos meus amigos, em todos os lugares.
Que acha da literatura engajada?
Toda literatura é engajada.
Qual de seus livros você mais gosta?
O próximo.
A que você atribui o fato de que os seus leitores acham você o “vulcão da América Latina”?
Não sabia disso, talvez eles não conheçam os vulcões.
Qual é o seu poema mais recente?
“Fim do Mundo”. Trata do século 20.
Como se processa em você a criação?
Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita.
A critica constrói?
Para os outros, não para o criador.
Você já fez algum poema de encomenda? Se não o fez faça agora, mesmo que seja bem curto.
Muitos. São os melhores. Este é um poema.

O nome Neruda foi casual ou inspirado em Jan Neruda, poeta da liberdade tcheca?
Ninguém conseguiu até agora averiguá-lo.
Qual é a coisa mais importante no mundo?
Tratar para que o mundo seja digno para todas as vidas humanas, não só para algumas.
O que é que você mais deseja para você mesmo como indivíduo?
Depende da hora do dia.
O que é amor? Qualquer tipo de amor.
A melhor definição seria: o amor é o amor.
Você já sofreu muito por amor?
Estou disposto a sofrer mais.
Quanto tempo gostaria você de ficar no Brasil?
Um ano, mas depende de meus trabalhos.

E assim terminou a entrevista com Pablo Neruda. Antes falasse ele mais. Eu poderia prolongá-la quase que indefinidamente. Mas era a primeira entrevista que ele dava no dia seguinte à sua chegada, e sei quanto uma entrevista pode ser cansativa. Espontaneamente, deu-me um livro, “Cem Sonetos de Amor”. E depois de meu nome, na dedicatória, escreveu: “De seu amigo Pablo”. Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: “Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor co­mo uma vocação do homem e a poesia co­mo sua tarefa”. Eis um retrato de corpo inteiro de Pablo Neruda nestas últimas frases.

A entrevista foi concedida em 19 de abril de 1969 
e publicada no livro “De Corpo Inteiro”, Editora Rocco, em 1999 

viernes, 14 de febrero de 2014

Los nadies



Lee despacio este texto, este poema y descubre de quien está hablando el escritor Eduardo Galeano. Los nadies, los excluidos, los que viven al margen de este sistema injusto, ingrato con los que menos tienen, y de los cuales se aprovecha descaradamente sin ningún remordimiento de conciencia.

Los nadies

Sueñan las pulgas con comprarse un perro 
y sueñan los nadies con salir de pobres.

Que algún mágico día llueva de pronto la buena suerte,
que llueva a cántaros la buena suerte; 
pero la buena suerte no llueve ayer, ni hoy, ni mañana, ni nunca, 
ni en lloviznita cae del cielo la buena suerte,
por mucho que los nadies la llamen y aunque les pique la mano izquierda,
o se levanten con el pie derecho, o empiecen el año cambiando de escoba.

Los nadies: los hijos de nadie, los dueños de nada.
los nadies: los ningunos, los ninguneados, corriendo la liebre,
muriendo lavida,
jodidos, rejodidos:

Que no son, aunque sean.
que no hablan idiomas, sino dialectos.
que no profesan religiones, sino supersticiones.
que no hacen arte, sino artesanía.
que no practican cultura, sino folklore.
que no son seres humanos, sino recursos humanos.
que no tienen cara, sino brazos.
que no tienen nombre, sino número.
que no figuran en la historia universal, sino en la crónica roja de la prensa local.
los nadies, que cuestan menos que la bala que los mata.


EDUARDO GALEANO

lunes, 10 de febrero de 2014

Muere lentamente



Leia em espanhol o poema da escritora Martha Medeiros: "Morre lentamente". Circula na internet como se fosse um poema do escritor chileno Pablo Neruda, porém não é verdade.


MUERE LENTAMENTE

Muere lentamente quien es esclavo del hábito repitiendo todos los días lo mismos itinerarios, quien no cambia de marca y no se arriesga a vestir un nuevo color y no conversa con quien no conoce.

Muere lentamente quien evita una pasión, quien prefiere el negro en el blanco y los puntos sobre las íes a un remolino de emociones, justamente las que rescatan el brillo en los ojos, sonrisas y llantos, corazones tropezando, sentimientos.

Muere lentamente quien no vuelca la mesa cuando está infeliz en el trabajo, quien no arriesga la certeza por lo incierto detrás de un sueño y no se permite huir de los consejos sensatos, por lo menos una vez en la vida.

Muere lentamente quien no viaja, quien no lee, quien no escucha música, quien no encuentra gracia en sí mismo.

Muere lentamente quien no tiene amor propio, quien no se deja ayudar.

Muere lentamente quien deja pasar los días quejándose de su mala suerte, de la lluvia incesante.

Muere lentamente quien abandona un proyecto antes de iniciarlo, quien no pregunta sobre un asunto que desconoce o no responde cuando le preguntan sobre algo que él sabe.

Evitemos la muerte en pequeñas dosis, recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo mucho mayor que el simple acto de respirar. 

Sólamente la paciencia ardiente hará que conquistemos una felicidad plena.

Martha Medeiros

domingo, 9 de febrero de 2014

La Colmena (1951)



No pretendo analizar aquí "La colmena" de CJC, un libro complejo, poliédrico y rebosante de aquella sucia realidad de la postguerra española, ya que me daría miedo escribir solamente obviedades y cosas repetidas, leídas tantas veces en otros sitios. Sin embargo, desde que la leí en una edición de bolsillo barata porque era lectura obligatoria en el instituto me quedé prendado con los textos introductorios que Cela fue escribiendo a lo largo de los años. Aquellos textos los leí muchas veces y también los subrayé y repetía aquellas frases y me quedaba con la boca abierta. Hoy, después de algunos años rescato estas notas y las comparto aquí con los lectores. Aquí está toda la sabiduría de Cela condensada en apenas algunas líneas que él llamó de "Notas a la primera, segunda, tercera, cuarta edición".

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LA COLMENA (1951)

NOTA A LA PRIMERA EDICIÓN

Mi novela “La colmena”, primer libro de la serie “Caminos inciertos”, no es otra cosa que un pálido reflejo, que una hu­milde sombra de la cotidiana, áspera, entrañable y doloro­sa realidad.
Mienten quienes quieren disfrazar la vida con la másca­ra loca de la literatura. Ese mal que corroe las almas; ese mal que tiene tantos nombres como queramos darle, no puede ser combatido con los paños calientes del conformis­mo, con la cataplasma de la retórica y de la poética.
Esta novela mía no aspira a ser más —ni menos, cierta­mente— que un trozo de vida narrado paso a paso, sin reti­cencias, sin extrañas tragedias, sin caridad, como la vida discurre, exactamente como la vida discurre. Queramos o no queramos. La vida es lo que vive —en nosotros o de nosotros—; nosotros no somos más que su vehículo, su excipiente como dicen los boticarios.
Pienso que hoy no se puede novelar más —mejor o peor—  que como yo lo hago. Si pensase lo contrario, cambiaría de oficio.
Mi novela —por razones particulares— sale en la Repú­blica Argentina; los aires nuevos —nuevos para mí— creo que hacen bien a la letra impresa. Su arquitectura es com­pleja, a mí me costó mucho trabajo hacerla. Es claro que esta dificultad mía tanto pudo estribar en su complejidad como en mi torpeza. Su acción discurre en Madrid —en 1942— y entre un torrente, o una colmena, de gentes que a veces son felices, y a veces, no. Los ciento sesenta personajes)  que bullen —no corren— por sus páginas, me han traído durante cinco largos años por el camino de la amar­gura. Si acerté con ellos o con ellos me equivoqué, es cosa que deberá decir el que leyere.
La novela no sé si es realista, o idealista, o naturalista, o costumbrista, o lo que sea. Tampoco me preocupa demasiado. Que cada cual le ponga la etiqueta que quiera; uno ya está hecho a todo.

NOTA A LA SEGUNDA EDICIÓN

Pienso lo mismo que hace cuatro años. También siento y preconizo lo mismo. En el mundo han sucedido extrañas cosas —tampoco demasiado extrañas—, pero el hombre acorralado, el niño viviendo como un conejo, la mujer a quien se le presenta su pobre y amargo pan de cada día col­gado del sexo —siniestra cucaña— del tendero ordenancis­ta y cauto, la muchachita en desamor, el viejo sin esperanza, el enfermo crónico, el suplicante y ridículo enfermo cró­nico, ahí están. Nadie los ha movido. Nadie los ha barrido. Casi nadie ha mirado para ellos.
Sé bien que La colmena es un grito en el desierto; es posible que incluso un grito no demasiado estridente o desga­rrador. En este punto jamás me hice vanas ilusiones. Pero, en todo caso, mi conciencia bien tranquila está.
Sobre La colmena, en estos cuatro años transcurridos, se ha dicho de todo, bueno y malo, y poco, ciertamente, con sentido común. Escuece darse cuenta que las gentes siguen pensando que la literatura, como el violín, por ejemplo, es un entretenimiento que, bien mirado, no hace daño a nadie. Y ésta es una de las quiebras de la literatura.
Pero no merece la pena que nos dejemos invadir por la tristeza. Nada tiene arreglo: evidencia que hay que llevar con asco y con resignación. Y, como los más elegantes gladiadores del circo romano, con una vaga sonrisa en los labios.

NOTA A LA TERCERA EDICIÓN

Quisiera desarrollar la idea de que el hombre sano no tiene ideas. A veces pienso que las ideas religiosas, morales, sociales, políticas, no son sino manifestaciones de un desequilibrio del sistema nervioso. Está todavía lejano el tiempo en que se sepa que el apóstol y el iluminado son car­ne de manicomio, insomne y temblorosa flor de debilidad. La historia, la indefectible historia, va a contrapelo de las ideas. O al margen de ellas. Para hacer la historia se preci­sa no tener ideas, como para hacer dinero es necesario no tener escrúpulos. Las ideas y los escrúpulos —para el hombre acosado: aquel que llega a sonreír con el amargo rictus del triunfador— son una rémora. La historia es como la circulación de la sangre o como la digestión de los alimen­tos. Las arterias y el estómago, por donde corre y en el que se cuece la sustancia histórica, son de duro y frío pedernal. Las ideas son un atavismo —algún día se reconocerá— jamás una cultura y menos aún una tradición. La cultura y la tradición del hombre, como la cultura y la tradición de la hiena o de la hormiga, pudieran orientarse sobre una rosa de tres solos vientos: comer, reproducirse y destruirse. La cultura y la tradición no son jamás ideológicas y si, siempre, instintivas. La ley de la herencia —que es la más pasmosa ley de la biología— no está ajena a esto que aquí vengo diciendo. En este sentido, quizás admitiese que hay una cultura y una tradición de la sangre. Los biólogos, sa­gazmente, le llaman instinto. Quienes niegan o, al menos, relegan al instinto —los ideólogos—, construyen su artilugio sobre la problemática existencia de lo que llaman el "hombre interior", olvidando la luminosa adivinación de Goethe: está fuera todo lo que está dentro. Algún día volveré sobre la idea de que las ideas son una enfermedad. Pienso lo mismo que dos años atrás. Desde mi casa se ven, anclados en la bahía, los grises, poderosos, siniestros buques de la escuadra americana. Un gallo cacarea, en cualquier corral, y una niña de dulcecita voz canta —¡oh, el instinto!— los viejos versos de la viudita del conde de Oré.
No merece la pena que nos dejemos invadir por la triste­za. La tristeza también es un atavismo.
                                                                   CJC, Palma de Mallorca, 18 de junio de 1957

NOTA A LA CUARTA EDICIÓN

Seguimos en las mismas inútiles resignaciones: los mis­mos dulces paisajes que tanto sirven para un roto como para un descosido. Es grave confundir la anestesia con la esperanza; también lo es, tomar el noble rábano de la pa­ciencia por las ruines hojas —lacias, ajadas, trémulas— de la renunciación.
Desde la última salida de estas páginas han pasado cin­co años más: el tiempo, en nuestros corazones, lleva cinco años más parado, igual que una ave zancuda muerta —y enhiesta e ignorante— sobre la muerta roca del cantil. ¡Qué ridícula, la carne que envejece sin escuchar el zarpazo —o el lento roído— del tiempo, ese alacrán!
Sobre los zurrados cueros de mis títeres (Juan Lorenzo, natural de Astorga, hubiera dicho: caeran fornecinos e de rafez affer) han caído no cinco, sino veinte lentos, dego­llados, monótonos años. Para los míos —que el tiempo late en los de todos y de su marca no se libra ni la badana de los tres estamentos barbirrapados: curas, cómicos y tore­ros— también sonaron los veinte agrios (o no tan agrios) avisos de veinte sansilvestres.
Sí. Han pasado los años, tan dolorosos que casi ni se sienten, pero la colmena sigue bullendo, pese a todo, en adoración y pasmo de lo que ni entiende ni le va. Unas in­signias (el collar del perro que no cambia) han sido arrumbadas por las otras y los usos de mis pobres conejos domés­ticos (que son unos pobres conejos domésticos que, a lo que se ve, sólo aspiran a ir tirandillo) se fueron acoplando, dó­ciles y casi suplicantes, al último chinchín que les sopló (¡qué ilusión mandar a la plaza todos los días!) en las ore­jas.
A la historia —y éste es un libro de historia, no una novela— le acontece que, de cuando en cuando, deja de enten­derse. Pero la vida continúa, aun a su pesar, y la historia, como la vida, también sigue cociéndose en el inclemente puchero de la sordidez. A lo mejor la sordidez, como la tristeza de la que hablaba hace cinco años, también es un atavismo.
La política —se dijo— es el arte de encauzar la inercia de la historia. La literatura, probablemente, no es más cosa que el arte (y, a lo mejor, ni aun eso) de reseñar la marejadilla de aquella inercia. Todo lo que no sea humil­dad, una inmensa y descarada humildad, sobra en el equi­paje del escritor: ese macuto que ganaría en eficacia si acertara a tirar por la borda, uno tras otro, todos los ata­vismos que lo lastran. Aunque entonces, quizás, la literatu­ra muriese: cosa que tampoco debería preocuparnos dema­siado.
 C. J. C., Palma de Mallorca, 7 de mayo de 1962

ULTIMA RECAPITULACIÓN

Hay reglas generales: las aguas siempre vuelven a sus cauces, las aguas siempre vuelven a salirse de sus cauces, etc. Pero al fantasma, aún tenue, de la realidad, no ha na­cido quien lo apuntille, quien le dé el certero cachetazo que le haga estirar la pata de una puñetera vez y para siempre. El mundo gira, y las ideas (?) de los gobernantes del mun­do, las histerias, las soberbias, los enfermizos atavismos de los gobernantes del mundo, giran también y a compás y se­gún convenga. En este valle de lágrimas faltan dos cosas: salud para rebelarse y decencia para mantener la rebelión; honestamente y sin reticencias, con naturalidad y sin fingir extrañas tragedias, sin caridad, sin escrúpulos, sin insom­nios (tal como los astros marchan o los escarabajos se ha­cen el amor). Todo lo demás es pacto y música de flauta.
En uno de estos giros, sonámbulos giros, del inmediato mundo. La colmena se ha quedado dentro. Lo mismo hu­biera podido —a iguales méritos e intención— acontecer lo contrario. Lo mismo, también, hubiera podido no haberse escrito por quien la escribió: otro lo hubiera hecho. O nadie (seamos humildes, inmensa y descaradamente humildes, etc.). El escritor puede llegar hasta el asesinato para re­dondear su libro; tan sólo se le exige que —en su asesinato y en su libro— sea auténtico y no se dejé arrastrar por las afables y doradas rémoras que la sociedad, como una aja­da amante ya sin encantos, le brinda a cambio de que en­mascare el latido de aquello que a su alrededor sucede.
El escritor también puede ahogarse en la vida misma: en la violencia, en el vicio, en la acción. Lo único que al es­critor no le está permitido es sonreír, presentarse a los con­cursos literarios, pedir dinero a las fundaciones y quedarse entre Pinto y Valdemoro, a mitad de camino. Si el escritor, no se siente capaz de dejarse morir de hambre, debe cam­biar de oficio. La verdad del escritor no coincide con la ver­dad de quienes reparten el oro. No quiere decirse que el oro sea menos verdad que la palabra, y sí, tan sólo, que la pala­bra de la verdad no se escribe con oro, sino con sangre (o con mierda de moribundo, o con leche de mujer, o con lágrimas).
La ley del escritor no tiene más que dos mandamientos: escribir y esperar. El cómplice del escritor es el tiempo. Y el tiempo es el implacable gorgojo que corroe y hunde la so­ciedad que atenaza al escritor. Nada importa nada, fuera de. la verdad de cada cual. Y todavía menos que nada, debe importar la máscara de la verdad (aun la máscara de la verdad de cada cual).
El escritor es bestia de aguantes insospechados, animal de resistencias sinfín, capaz de dejarse la vida —y la repu­tación, y los amigos, y la familia, y demás confortables za­randajas— a cambio de un fajo de cuartillas en el que pue­da adivinarse su minúscula verdad (que, a veces, coincide con la minúscula y absoluta libertad exigible al hombre). Al escritor nada, ni siquiera la literatura, le importa. El es­critor obediente, el escritor uncido al carro del político, del poderoso o del paladín, brinda a quienes ven los toros des­de la barrera (los hombres clasificados en castas, clases o colegios) un espectáculo demasiado triste. No hay más es­critor comprometido que aquel que se jura fidelidad a sí mismo, que aquel que se compromete consigo mismo. La fidelidad a los demás, si no coincide, como una moneda con otra moneda, con la violenta y propia fidelidad al dictado de nuestra conciencia, no es maña de mayor respeto que la disciplina —o los reflejos condicionados— del caballo del circo.
El escritor nada pide porque nada —ni aun voz ni plu­ma— necesita, y le basta con la memoria. Amordazado y maniatado, el escritor sigue siendo escritor. Y muerto, tam­bién: que su voz resuena por el último confín del desierto, y que el recuerdo de sus criaturas ahí queda. Mal que pese a los pobres títeres que quieren arreglar el mundo con el de­recho administrativo.
A la sociedad, para ser feliz en su anestesia (las hojas del rábano de la esperanza), le sobran los escritores. Lo malo para la sociedad es que no ha encontrado la fórmula de raerlos de sí o de hacerlos callar. Tampoco está en el camino de conseguirlo.
En los tiempos modernos, el escritor ha adoptado cuatro sucesivas actitudes ante los políticos obstinados en condu­cir al hombre por derroteros artificiales (todos los derrote­ros por donde los políticos han querido conducir al hombre son artificiales, y todos los políticos se obstinaron en no permitir al hombre caminar por su natural senda de íntima libertad). Al escritor que se hubiera cambiado por el políti­co sucedió el escritor que se conformaba con marchar a re­molque del político. Al escritor que se siente lazarillo del político, ¡qué ingenua soberbia!, seguirá el escritor que lo despreciará. La historia tiene ya el número de páginas su­ficientes para enseñarnos dos cosas: que jamás los podero­sos coincidieron con los mejores, y que jamás la política (contra todas las apariencias) fue tejida por los políticos (meros canalizadores de la inercia histórica). El fiscal de esta inercia y de los zurriagazos de quienes quieren, vana­mente, llevarla por aquí o por allá, es el escritor. El resul­tado nada ha de importarle. La literatura no es una chara­da: es una actitud.

C. J. C, Palma de Mallorca, 2 de junio de 1963


CJC: "Turno de réplica"



La primera vez que Cela habló del  libro/proyecto "Turno de réplica" fue en una entrevista que le hizo la periodista Victoria Prego en aquellos días de promoción de su novela "Madera de boj". No me acuerdo si definía el libro como un capítulo más de sus memorias o en realidad sería un ajuste de cuentas con sus queridos contemporáneos. 


- ¿Y ahora mismo no tiene ningún nuevo título en la cabeza?
- Eso podría ser «Turno de réplica». Por seguir un poco la línea de «Memorias, entendimientos y voluntades». A lo mejor. No lo sé. Yo tengo ahí verdaderas maravillas, en el epistolario. Cosas insospechadas, que no se deben decir en un periódico. Yo no quiero meterme con nadie, no sé. Tengo que pensarlo en todo caso.

- Puede ser magnífico.
- Sí. Pero también puede ser doloroso para alguien. Y yo no quiero. Si está muerto no, y si está vivo tampoco quiero amargarle sus últimos años. También puedo escribirlo y no publicarlo hasta dentro de cincuenta años. Ya veremos.

El caso es que hasta hoy nada fue publicado. Quiero creer que Cela empezó este proyecto y tal vez no llegó a terminarlo nunca porque le cogió por sorpresa la pereza, el aburrimiento o tal vez la inoportuna muerte y ahora este libro inédito estará guardado en alguna caja del archivo personal de su Fundación. Aquí os dejo unas líneas donde Cela comenta algo sobre este nuevo proyecto.

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"Después de terminar la novela "Madera de boj" ando sin sombra y como medio desorientado porque, sin tener nada que hacer, me falta tiempo para no hacer nada; la holganza tiene sus reglas y sus servidumbres a las que no cabe querer substraerse y es muy difícil llenar el tiempo vacío cuando no se tiene el material del relleno bien dispuesto y a mano.

A veces, cuando los escritores terminamos un libro, quedamos expuestos a que nos invadan ciertos trastornos neurovegetativos que pueden llevamos en volandas hasta el huero planeta del nihilismo lírico por donde vuelan querubines que semejan codornices. Mi ángel de la guarda me dice que diga que lo que queda dicho no es más que una súplica de perdón, y yo me permito recordar que don Guillermo aseguraba que nada envalentona tanto al pecado como la indulgencia. 

Ahora, mientras le doy vueltas en la cabeza a lo que debo hacer y acontecer, o sea a lo que voy a intentar escribir si es que intento escribir algo, se me amontonan en la cabeza un tropel de proyectos que jamás podría llevar a término por muchos años que viviese. Me ronda desde hace años la idea de continuar mis memorias con un nuevo tomo, "Turno de réplica", en el que contase tanto aciertos y dianas como pifias y resbalones de mis contemporáneos; tengo un buen archivo que algún día alcanzará el orden, y de él quizá pudieran obtenerse claridades de lo que con frecuencia se nos presenta confundido. El único inconveniente que le veo es que inevitablemente tuviera que doler a alguien lo que dijese, cosa que no deseo que suceda porque prefiero pasar por esta vida sin entrar en el juego de las diatribas y los ditirambos. El arbitrio de que no se publiquen mis cuartillas hasta pasados cincuenta años de mi muerte tampoco me sirve porque la historia barre al mundo más deprisa de lo que todos pensamos e incluso deseamos. Cicerón suponía que en la historia no cabe nada que sea falso y que no hay que temer confesar la verdad. A lo mejor acabo convenciéndome de que esto es cierto". 

CJC, El color de la mañana: "Turno de réplica". Abc, Domingo 3 de octubre de 1999



sábado, 8 de febrero de 2014

Cualquier cosa



Leyendo mis cuadernos de anotaciones encuentro esta frase de Cortázar, que parece premonitoria para cualquiera que se dedique al oficio de escribir y atrapar con palabras la realidad íntima en la que uno vive sumergido inevitablemente.

Comparto con Julio Cortázar la idea de que la realidad nunca es lo que parece, los demás siempre nos ocultan alguna cosa y nosotros continuamos siendo un misterio para nosotros mismos. 


(...) Escribir es una forma imprescindible de vivir. Cuando uno quiere escribir, escribe. Si uno está condenado a escribir, escribe. La literatura es una forma de juego, un juego por el que uno puede llegar a jugarse la vida. Se puede hacer cualquier cosa, todo por ese juego.

JULIO CORTáZAR


lunes, 3 de febrero de 2014

La fuente (1917)



La Fuente (1917) es una obra que Marcel Duchamp expuso en el museo de Nueva York y que en realidad era un "urinario de porcelana". Lo tituló como Fountain (La Fuente) y lo firmó "R. Mutt". Es una de las piezas que llamó readymades. Se trata del arte realizado mediante el uso de objetos ya existentes que normalmente no se consideran artísticos. Ready-made también por el término objeto encontrado (en francés: objet trouvé).

En la muestra de arte a la que Duchamp presentó la pieza declaró que todas las obras serían aceptadas, pero La Fuente no fue mostrada en realidad, y el urinario original se ha perdido. La obra es considerada por algunos como un hito importante en el arte del siglo 20.La réplicas por encargo de Duchamp en la década de 1960 están ahora en exhibición en una serie de diferentes museos.

domingo, 2 de febrero de 2014

Hay Mujeres



HAY MUJERES...
Joaquín Sabina

Hay mujeres que arrastran maletas cargadas de lluvia,
Hay mujeres que nunca reciben postales de amor,
Hay mujeres que sueñan con trenes llenos de soldados,
Hay mujeres que dicen que sí cuando dicen que no.
Hay mujeres que bailan desnudas en cárceles de oro,
Hay mujeres que buscan deseo y encuentran piedad,
Hay mujeres atadas de manos y pies al olvido,
Hay mujeres que huyen perseguidas por su soledad.
Hay mujeres veneno, mujeres imán,
Hay mujeres de fuego y helado metal,

Hay mujeres consuelo, hay mujeres consuelo,
Hay mujeres consuelo, mujeres fatal.

Hay mujeres que tocan y curan, que besan y matan,
Hay mujeres que ni cuando mienten dicen la verdad,
Hay mujeres que exploran secretas estancias del alma,
Hay mujeres que empiezan la guerra firmando la paz.
Hay mujeres envueltas en pieles sin cuerpo debajo,
Hay mujeres en cuyas caderas no se pone el sol,
Hay mujeres que van al amor como van al trabajo,
Hay mujeres capaces de hacerme perder la razón.

P.D: La fotografía es de Chema Madoz

Cuadro Negro sobre fondo Blanco, 1913



Texto

"Cuadrado negro sobre fondo blanco"
Kasimir Malevich
106,2 x 106,5 cm
Oleo sobre lienzo
1913
Galería Tetryakov de Moscú